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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

3.5.07

Nós Dois

Não há porta que prenda o vento
Nem janela nem labirinto
Nem há cortiça alfinetada
Pelo zimbro do pensamento

Não há fruta que apodrecida
Germinasse em meu sonho vivo
Como se houvesse dentro dela
Um outro eu bem parecido

Não há fuligem nem brancura
Nem podridão de outra chuva
Que descesse a rua enrustida
Penetrando rude a avenida

Não há aquela cor que se via
Quando passavam maritacas
Quando choravam passarinhas
Ao ver o sol tardar no dia

Não há mais nada assim de fato
Como se os marrecos do lago
Fugissem do fundo de lodo
Como fugimos nós de todos

Nem furacão que nos sossegue
Nem há coração que nos bata
Como não há luz que nos cegue
Mesmo à beira da lua clara

Não há cimento que nos una
Como as paredes que levantas
Em torno da vida futura
Que sabemos os dois que espanta

Não há relógio que nos pare
Nem sinal que nos oriente
Nem Ocidente que me cabe
E dar-me a ti como presente

Não há constelação nem o oco
Do universo expandido preto
E fino como a casca do ovo
Que nos protege assim do medo

Não há fluidez que nos solte
Como dois suspiros da queda
De uma cachoeira que envolve
Nós dois noutro corpo de pedras