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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

5.3.08

Espelho

Cá de novo estamos
Numa noite crua,
Sem o tempo necessário
Do cozimento;
Numa carne fria,
Com toda rigidez
Pós-mortem.

Estamos os dois, solos,
Numa terra dízima
De vento periódico.

Cá, nas paredes do emissário,
Penduram-nos quadros
Desalinhados,
E as paredes chovem.

Cá estamos à cabina...
Quando a escotilha fecha,
Ouve-se agüar o casco,
Gritar os botos,
Chorar as baleias às pedras,
Ao despertar o diabo.

Cá estamos eu e a distância;
Dois próximos semelhantes
Numa reta finda,

Podres, mal-cheirosos,
Cheios de sonhos penosos,
Suados, bêbados...
Cá estamos eu, a vida
E o espelho.