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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

12.3.08

A Morte do Mundo

Digo sempre que escrever sobre o nascimento não é algo que me instiga. Pois, dele, não posso abstrair invenções, já que é fato consumado e irreversível. O meu, aconteceu estranho – dizem. Nasci, literalmente, virado para a Lua. E digo que nem sobre nascer estranho me valha a pena escrever. Talvez devesse a isso, que nascer não me apeteça a ponto de pensar mais e desdobrar em milhões a minha imaginação. Uma vez nascido, não importa mais.

O que me importa é a morte. Sobre ela, posso discorrer horas a fio, mesmo sabendo nada sobre o assunto. Discorro melhor e tão bem quanto qualquer um dos homens, que a conhecem tanto quanto eu. E, conseqüentemente, atento à criação de minha morte, crio também meu futuro. Claro. Porque tudo que é passível de criação, tem que ser futuro – senão é cópia. Morte é futuro.

Parece um sistema óbvio, mas tem quem diga que morreu e voltou para onde estava. Dizem até que lembram da morte ou da vida antes da morte anterior à vida atual... Confusão na qual não me aventuro discórdia. O que me atrai é criar minha própria morte, mas uma que seja desta vida.

Assim, nas linhas do meu futuro, decidi que essa morte será um evento mundial. Tantas velas serão acesas que bastará o dia sem o sol; tantas lágrimas corridas, que bastará o mundo sem oceanos, mares e rios. Tudo inútil. Minha morte tornará o Mundo inútil.

Se decido por isso, decido também que a inutilidade do Mundo é a morte dele. Vejam, não digo que ser inútil é estar morto. Mas tornar-se inútil depois de um bilhão de anos trabalhando, é a morte, com certeza! Nem merece o mundo continuar correndo por aí, nessa incansável leveza de ser, rodopiando pela via-láctea, brincando de pique-pega com o Sol e esconde-esconde com a Lua, depois de minha morte. É só deitar em berço esplêndido, eternamente, e à luz do vácuo escuro.

Relaxe, Mundo, enfim! Quiçá talvez nos encontremos num além-futuro, um futuro mais-que-perfeito: eu vestido de mundo e, você, vestido de mim.