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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

22.4.08

Do Ano Passado

Minha memória anda confundida.
Não pelo excesso de momentos lembrados,
mas pelos poucos distantes escondidos.

Talvez seja a rotina que não se deixe gravar,
já que se repete. Então, parece
que lembrar do presente não se deve
à memória a que se remete lembrar.

É dos tambores de Ogum que lembro,
e não das batidas de trânsito.
É da voz de uma artista feminina
em seu longo e severo canto,
em vez dos passarinhos de Laranjeiras.

É dos trilhos de Santa Teresa,
que seguimos (ela cá, eu lá),
quando deveria eu lembrar do caminho de casa
- e voltar.
É da cachaça que me deixa mais solto,
não da timidez com que te olho no olho.

Das cores branca e vermelha
e não das minhas cores.
Da rosa entrelaçada em seus cabelos
que não os deixam em embaraço.
Do cansaço da ladeira, subindo e descendo.
Minhas pernas em tremores.

É dos goles de cerveja,
da conversa num bar da Lapa,
logo antes do violão de Zé Paulo.
Da tentativa de dança que sempre
me conduzia como dançasse
sobre um invisível palco.

Da felicidade que me ressalvo,
dia após dia, enterrada na sua boca.
Das segundas-feiras seguintes que lembro,
e não das outras.

Na minha lembrança,
o meu destino guardado
por detrás das persianas
de um quarto.
É lá, do meu amor de criança,
que me deixo em resguardo.

E deito ao lado da memória
como se deitasse ao seu lado.