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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

9.1.09

Jornada a Dois

Todas as noites, saio de casa,
como saísse de meu corpo.
Com o andar cuidadoso
e os pés sigilosos,
encosto o portão atrás de mim,
até o fecho explodir silencioso.

Desço a rua, com as mãos no bolso,
evitando o lixo e as lacunas da calçada.
Chego à encruzilhada e contra-rezo.
Subo as Laranjeiras
até que vire Cosme Velho.
Percebo que há caminhos
em que nunca me entrevo.

Adentro o Rebouças
aventurando-me entre os carros,
entre os tiros e a fuligem.
Caminho longo, em declive.
Não sinto as pernas,
porque andam sozinhas,
por conta própria,
livres.

Curvo ao bairro dos jardins,
onde, até de madrugada,
ouço o ranger da cacatua.
Conto as palmeiras
e as barras de ferro
que as separam de mim.
A noite, nua e crua,
investigada pelos olhos,
sentida pelo incrédulo.

Minhas mãos suam,
minhas pálpebras cerram,
minhas pupilas dilatam.
Sinto-me como a lua,
branca e desabrigada.
Até onde minha vista alcança,
não enxergo nada.

Agora, a Gávea.
A vela superior à grande,
o tabuleiro de altura ao mastro
da jangada...
Enfim, sinto-me perto de casa,
novamente.

Vejo-a quando desliza pela praça...
Ela, com sua saia,
seu andar de alfaia,
sua cor de semente.
Nós dois, evidentes
aos sentidos da alvorada.

Pelas mãos, que a levo junto.
Fazemos meu caminho de volta
para dentro de mim.
E nada que mude o destino,
é feito divino de outrora:
somos assim, um do outro,
sem sacrifícios
e sem demora.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Uau! Adorei Dani!
Beijos, Le.
=D

19:08  

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