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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

12.7.07

O Artista

Na metade do artista
há sempre falta
há escassez
uma carência de arte
inexplicavelmente pura
anti-sensitiva
criativa e inculta

Há mistério

Artista é a vida
que não viveu

Há no artista um impossível
que se fecha;
um amor intransponível
de barreiras invisíveis,
que a alma projeta.
Há no artista o oculto,
o inacabado;
um constante ser promíscuo,
dado e amigável demais
que, no submundo,
permanece intacto, em paz.

Há no artista um cuidado
com a coisa da arte:
um semita, um xiita ao largo,
um canalha.
Há dentro, bem dentro,
o sossego e o sucesso
privatizados;
um artista-feto,
dentro da bolsa d'água do espírito
que, do umbigo da imaginação,
suga proteína de falácias
e absurdos poéticos.

Um espasmo;
convulsão!
Um arroubo de paradigmas
dos sentidos.
Há no artista um proibido;
um rastro na poeira
do pensamento.
O ambíguo:
um gosto de cereja
no paladar;
um cheiro de chuva
no olfato;
um som de macumba
nos ouvidos.
Um escancaro intrépido
que percorre as veias do incerto.

Um artista não é arte apenas,
é todo sentimento que a cerca.
No artista, há noite,
dia e o que há entre eles.
Há desordem e euforia
que, na boca, saliva
deveras saliente,
quando um beijo o sela na despedida.