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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

1.4.08

A Razão Parasita

O que sinto não se pronuncia

Não se anuncia pelas estrelas
Não são imagens delas, apenas
São coisas que brotam da terra
Que os amantes amam suados
Que os poetas escrevem
(mas escrevem contrariados)

Que as freiras escondem
E os padres rezam pela revelação
Que as parteiras puxam do ventre
Que os filhos nascem nas macas
Que controlam o marcapassado coração

Que os doentes adoecem felizes
Entre os leitos de morte
Dentro das mortes que já sentem

São coisas inexplicáveis
Que os duendes escondem no porão
Que os monges bebem antes dos cânticos
Engrossam a voz dos mantras
Repete-se e repete-se e repete-se

O que sinto não tem jeito
Não se ajeita na ilusão dos sonhadores
Não se encaixa no sonho dos iludidos
Não tem preço

São coisas que os planetas giram
São coisas do eixo do universo
Do feixe do sol, do facho de luz

O que sinto não se devaneia
Não se sofre, não se vende
Não se venda
Não é inteira dor, nem meia
Não sei de quem é, mas não é alheia
Não sei de que é feita

Sei que o que sinto não é sentido
Nem do ouvido, nem do cheiro, nem das mãos
O que sinto não é olvido, nem lembrado
São coisas que permeiam
São coisas que os deleites da vida permitem
Que os destinos cruzados definem
Que os amores largados reamam
Que o tempo esquecido retorna e passa de novo
Que sempre definham

O que sinto é a explicação de tudo
Do indecifrável, do irresoluto

Coisas que o momento movimenta
Que o constante mover, o paralisa
São coisas que a vida revisita
Mesmo na partida repentina
Ou quando se reinventam

Coisas que me limitam
Misturando-se ao meu corpo
Que me parasitam

Coisas que me julgam
Coisas que me libertam
E mesmo assim,
São coisas que me condenam