Da Poesia Viva

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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

8.2.08

Música Guardada

Bem debaixo das pálpebras
- No miolo do olho, na íris -,
A pauta cheia de quiálteras
Refletidas nas águas dos cílios.

A mão debruça nas letras;
Cada uma, aos poucos,
Literando o que penso:
Allegro ma non troppo!

Retorno ao topo, da capo,
Da pena que marca um ponto,
Minimamente, entregado
Ao compasso de um ombro.

À medida em que ralento,
Carrego uma dó menor, pesado,
Que me faz anulado ao relento
Quando me prendo num bequadro.

Qual gelo no copo suado que escorre
E marca a madeira do piano,
Não musico nada para fora, se morre
Um sentimento subterrâneo.

Guardo-me com passado,
Num som dissimulado
Das paredes de um mundo
Que se limita ao meu quarto.

As bolas pintadas no papel
Dizem-me desenhos aleatórios
Como palavras num imbróglio:
E a minha música pouco é de Daniel.