Escudo
A contracapa amarela das folhas, a pedra latejada que brilha,
Os coqueiros em fila abaulados, a rima indesejada, a lontra e o cão.
Noite profunda, mas fria. Um desejo de inverter a Terra e trazer à superfície, o núcleo;
Desejo de inverter meu corpo e trazer à pele, o músculo.
Cor de escuro que tem o infinito, que sempre o imaginei branco...
Bruto futuro que sempre o imaginei brando...
Doce passado que sempre o quisera duro.
Lá fora, urge a Natureza que não sei se é contente ou se não.
A contracara mendiga das ruas, a esfera da gota maldita,
Os enfeites da lua encarnada, a cor desbotada, a contradição.
Noite calada, mas viva. Um desejo de entrevar o momento e trazer à mesmice, um rumo;
Desejo de entrevar meus olhos e trazer ao lume, meu fundo.
Cor de mundo que tem meu cinismo que sempre o imaginei oco...
Leve dilúvio que sempre o imaginei louco...
Mole coração que sempre o quisera escudo.