Começava a brotar poesia
De onde havia e não havia.
Se era, de livros, derramada,
Ou das vozes da alegria,
não sabia.
Vinha debruçada,
Como debutando na vida,
De véu e grinalda,
Como se viesse fugida
das entranhas, do calabouço,
do covil das feras,
da guarida.
Brotava por entre as pedras,
o lodo, o sal, o concreto,
o asfalto, a doença, a língua.
Poesia que não tinha defeito:
Floreteava as areias. Vinha
como desatina os amores,
como abarbava o amante,
sem muito o que ser feito.
Brotava poesia das falácias, até.
Dos impostores, dos vitrais,
Do mármore, dos anjos e de seus pés.
Poesia que abrira o Mar Vermelho,
curava os cegos e as falas da sacristia.
Poesia nos ecos, nos sinos, nos órgãos
Internos,
E nos órgãos da abadia.
Um som de poesia completa,
Brotava e brotava...
Tal maneira do esboço
Dos rostos e sua apatia.
E um único rosto subia a escadaria.
Brotava poesia!
Brotava da minha agonia,
Minhas horas de espera,
Meus anos de mera anicha,
Escondido em minha sina, como Florentino.
- Que lhe profira Gabriel Garcia.
Digo que a poesia brotava,
Porque o silêncio permanecia.
Um desígno de abarcar milagres,
Dia após dia.
Brotava, porque silencioso é também,
O surdir da biografia:
A flor nascida é apenas ouvida
Por ela mesma...
Assim me sentia:
Ouvindo-me a mim
E a poesia,
Enquando ela me vinha,
Sorrindo.
Logo, ela vestia o brilho
Do anel que lhe dava,
E dentro do beijo eu sentia:
Enfim, minha mulher
e, eu, seu marido.