Da Poesia Viva

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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

13.6.09

Andiamo

Esse não sou eu!
Meus lábios em seus lábios
não são meus.
Em suas mãos,
as minhas mãos, as minhas, não...
E nada contra o breu.
As linhas em declaração,
nas entrelinhas, eu.
Em todo sentimento
ainda tenho o meu
no seu,
meu sonho, ainda.
Esse não sou eu!

12.6.09

Dois

Outra vez (nós dois)
O rosto e a armadura
A pálpebra da Lua
E os olhos do ocaso

Outra vez (nós dois)
A língua e a palavra
O som e a voz calada
O tempo e o espaço

Sempre (dois)
Razão e desventura
Surto e poesia
Eu, você na vida
Porta aberta, a rua
Coração fechado, ainda...

O raso e a calmaria
O lenço e a despedida
Ida e volta, ida...
Nunca mais (nós dois)

Dentro e Fora

Se não estou dentro,
Estou fora.
Mas não estou fora por ter saído;
Nem estou dentro por ter entrado.
Entro e saio,
Ora sim, ora não,
Com meus pés descalços
E minha sombra no chão.

Saio mundo afora,
Dentro de mim.
Às vezes, saio de mim,
Aparte do mundo,
Como se eu fosse meu.

Haverá um dia em que as portas se fechem:
Ou fique dentro o mundo de mim,
Ou fique fora do mundo eu.

9.6.09

No Lugar da Palavra

Às vezes, parece que escrevo
como escreveria a própria palavra.
Ou ela que me vive,
como se vivesse na minha vida.

Ela, saída de meus dedos,
cheia de si, caminha pela sala.
Abre as cortinas,
arruma o tapete,
alinha os móveis,
acende a luminária.

Ando pelo branco do papel
enquanto ela, sorrateira,
troca-me as pernas pelos braços.
Tira-me a razão como se,
meus olhos, tirasse, ao acaso.

A noite vem.
E, ao deitar-me no verso, ela se aquieta:
emprega frase por frase,
mesmo onde não cabe.
A palavra certa, como num impasse,
apaga a luz, sossega e me espera.

Cócegas

Engano a quem
quando abarco amarujas,
sussurros e injúrias,
num corpo em fragmentos?

Engano as lágrimas,
os sentimentos,
as promessas e juras,
e toda loucura
que sinto à tudo, inerente?

Engano a quem
quando assino embaixo
à minha carta de alforria?
Se o que mais quero é
ser escravo da vida,
nos momentos de solidão.

A que, meu engano, remete?
Aos olhos da fera,
fechados de dia,
abertos à noite,
munidos de auto-preservação?

Fujo-me!
Engabelo-me!

Meus dias continuam sérios;
meus ares, minúsculos;
meus músculos intrépidos
como os sonhos de outrora...
Ora... Engano a quem
se quando venho o futuro,
sinto cócegas?