Da Poesia Viva

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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

22.11.08

Coral


Anuvia leve
O mundo reclina
cada colina
uma a uma
E meu core embebe
o que os homens não vêem:
vento.

Eu vento largo,
través,
sortido de espuma
e revés
e folhas de inverno
tão lento, lento...

Lendo cada página
em Bandeira
ou Neruda
e invento:
Meu core percebe
o que nem mesmo entendo.

11.11.08

Explosão

Encarrego-me, enfim, de abrir contagem!
Os anos já podem ser regredidos
como faz-se o explosivo:
pólvora da vida,
pavio de amores,
barril de imprevistos
e bum! Cá estou comigo,
valente e sozinho,
cheio de escombros
sobre os ombros de um aflito.
No último segundo, ainda chego a desistir e
repensar, arrependido.
Mas é tarde.
O estrondo é maior que
o choque de sufocar a saliva
quando a nuvem de poeira invade.
Agora é tarde e
sempre é tarde para se ter havido.

6.11.08

Posteridade

- Vi o futuro, Laurindo! Vi o futuro!
- Foi sonho. Volta a dormir.
- Não, Laurindo... Vi o futuro!
- Como sabes que é o futuro se não aconteceu ainda? Volta a dormir!
- Sei porque eu não estava nele!
- Então, como viste algo se não estavas lá?
- Não precisaria estar lá pra saber que via o futuro!
- Tu e esses devaneios...
- Não era devaneio, Laurindo! Era o futuro!!!
- E o que não é o futuro, senão devaneio? Volta a dormir!
- Laurindo... Via-te sozinho, no futuro!
- Sorte a minha! Espero que me vejas agora! Vês?

E Laurindo, ainda de olhos fechados, acena à sua esposa como se abanasse o vento. E virou-se de lado.

- Laurindo, Laurindo! Não durmas!
- Oxe, mulher! Deves fazer o mesmo! Por que te espantas tanto ao ver o "futuro" em seus sonhos?
- Porque é a primeira vez em que te vejo sem mim... Via-te sem mim!
- Sempre que me olhas, me vês sem ti! Oras! Senão, serias duas. Volta a dormir!