Da Poesia Viva

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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

27.7.08

Seresteiro

Já viste a lua de hoje, Flô?
Daquelas nas quais se deitam
os bêbados, feito em rede entre coqueiros.
Uma lua que mais parece de brinquedo
ou um doce confeiteiro
sobre a mesa de vovô.

Já viste a lua de hoje, Flô?
Como vejo a dessa noite,
ouvindo os grilos e os sapos-martelo.
Uma lua que tem cheiro de caramelo;
que é meu sorriso amarelo
declarando-te o amor.

24.7.08

Caindo no Desuso

Meu amor é peçonha de serpente
É pessoa maldita, delinqüente
É perigo encarado assim de frente
Passa rente ao seu próprio assassinato

É o eixo entre inferno, a vida e a morte
Intersecta o infinito, ao sul e ao norte
Rompe o escuro do peito num pinote
Soa forte, infalível e compassado

Meu amor é ferida que não sara
Uma voz penetrante que não fala
É conhaque de apuro, é malafaia,
É alfaia num bombo malamado

É amor que se rege a sinfonia
Que só ganha de falta na catimba
Que se ama a mulher solteira e aflita
É birita no solo abençoado

É amor de amar cego, escancarado
Entre o dito e o não dito inadequado
É amor de indulgências e contratos
Amor caindo no desuso
em que é fadado

22.7.08

Viola Malcriada

Meu violão moribundo
que em vez de harmonia
exala um furdúncio.
Já foi-se o tempo
em que nele haveria
menos desordem que aprumo.

Meu violão cafajeste
que em vez de cumprir,
desacata o mestre.
Já foi-se o tempo
em que nele me vi,
como no espelho aparece.

Meu violão abastado
que em vez de correto,
vem desritmado.
Já foi-se o tempo
em que nele, me entrego,
e tanto nele, me largo.

Meu violão insensível
que em vez de melódico,
grita tão horrível.
Já foi-se o tempo
do mistério nos modos
e de sua fé tão crível.

Meu violão dividido
não sabe se é Guinga
ou talvez Turíbio.
Já foi-se o tempo
em que nele haveria
um pouco de mim ainda vivo.

Definhado

A pele da moça, fina,
feito um camafeu de porcelana.
A febre vaga de lamparina
na escuridão por trás da flama.
O espelho e o castiçal;
a passarada meio branda.
O espasmo de um vendaval,
à meia-noite, sobre a cama.

E há tudo que em mim resiste,
como num tigre ameaçado,
Observa a presa que definha
e foge deixando a alma como rastro.

Encruzilhada

Já benzi-me!
Cruz-credo!
Há macumba que é veto;
que impede o concreto
e abstrai o devir.

Bon Vivent

Le bon vivent no Leblon
Sou mais que mero freguês
Je suis moet du chandon
Que nunca fica à mercê
Caminho no calçadão
Colhendo flor de buquê
Pra conquistar coração
De senhorita blasé

E se vagabundo enfrentar,
Partir pra cima de moi,
Arredo nunca meu pé!
Encaro, não fujo!
Non!
Non!
Não fujo de nada, monsieur,
Jamé!