Da Poesia Viva

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Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu;/ Quem não sentiu o frio da desgraça,/ Quem passou pela vida e não sofreu,/ Foi espectro de homem - não foi homem,/ Só passou pela vida - não viveu. (Francisco Otaviano)

18.1.08

Ilusão

Já vi corisco em olhares anuviados
Vi carreiras andarilhas de errantes
Vi fadas enfeitadas de barbantes
Quando me via alegre empapuçado

Pudera ver, quiçá, duendes nus
Quando andava sereno pelos campos
Via cabrochas coloridas pelos santos
E, as cores invadidas, vi de Ogum

Vi figuras estreladas e alumiadas
Quando, ao fim da tarde, reluziam
As paredes das nuvens em seus fios
Refletidas pelo sol da madrugada

Já vi fábulas onde não havia
Vi a minha mulher no balanço
Com as pernas esticadas tanto
E os cabelos... soprando a vida

Já vi coqueiros se desmantelarem
Quando a praga do amor me escorria
E em cada pétala que a flor abria
Fechavam-me os rios e os mares

Já vi sonhos onde não existiam
Com meus olhos de Quixote:
Moinhos encurralaram a sorte
Dentro dos sentimentos que não sentiam

Vi correntezas,
flores-de-amendoeiras
descendo por elas;
Vi tantas coisas vivas
que mesmo apenas vivas em mim,
ainda acreditava que algo eram.

5.1.08

Enfim

Num velho palco de vime
Faceira, dança a Graúna
Enquanto a pouca marquise
Nos abrigava da chuva

Achava-me um cartunista
Que preenchia lacunas
Ela ventava na vida
Eu vasculhava birutas

Eu rabiscava uma linha
Em torno da sua mão
Ela soltava da minha
E me passava um sermão

A correnteza descia
Rumo ao boeiro da rua
Enquanto ela dizia:
"Agora, não sou mais tua"

Não tenho medo da morte!
Enquanto sonho é sonho,
Nada é acaso ou remoto,
Por isso nunca me escondo.

O lápis borra meu vício
Palavra já não se escuta
E à beira do precipício
Meu personagem se acusa

No alto da escadaria
Ecoa de um serafim
Na derradeira alegria
Ela se ria, e se ria,
E eu também ria de mim