Já cego de tanto,
o vento sopra como o som das cabras,
o ranger dos ossos de um crânio,
como estática.
Passo pelo ponto zero,
marcado em todo fim de tarde.
Uma vida serena,
a cada pedacinho que se sabe,
que só avança as horas
quando o sentimento as leva.
Ando até depressa por ela,
feito ciranda de férias,
feito criança numa vida
em que vale o quanto pesa.
Vejo, em cada céu, uma estrela.
Uma lágrima em cor de luz
que arrebata a noite negra.
Faço um pedido ao tempo
e a cada moço que invento,
e que, dentro de mim, é supresa.
E caem os pingos da chuva,
debulhando o folguedo.
A mecânica dos astros acelera
a cada gole de cachaça.
Beijo a Lua com meus olhos
embrumados do sereno
- não sei se a Lua que é tonta
ou se é gelado meu frio beijo que a enlaça.
Numa saideira,
meu suor se transforma em cordão.
Minha sina de rodar os céus
revelando minha vida em peleja,
separa-me de mim: meu corpo de minh'alma;
meus pés descalços,
da fina areia do chão.
E cá estou novamente,
rodeado por sereias onde não vê-se mar;
onde não há palco, em meio às bailarinas.
Onde as cores mentem às vistas,
e o que os olhos parecem certos de achar.